O DIA DA ESPERA
A minha última espera ao Javali
realizou-se no dia 21 de Agosto. Tenho apostado num cevadouro junto a um
caminho na confluência dum eucaliptal com uma zona de mato muito suja.
Pareceu-me ser o sítio indicado para que os porcos se apresentassem á comida
sem muitas desconfianças. Ter escolhido o caminho para colocar o cevadouro
dava-me mais segurança para realizar um possível disparo, pois ficava sem
vegetação que além de causar sombras indesejadas á noite com a luz do luar
dificultariam mais o tiro.
Foram muitos dias a cevar e a
observar o comportamento do grande macareno, e o dia para a espera foi
determinado, não sem antes ter colocada a hipótese de ir a um outro sítio, pois
esta zona é muito sujeita ao enrolamento do vento, que já tantas vezes
denunciou a minha presença. Ouço os porcos no mato mas não entram ao cevadouro,
estes têm a escolaridade completa. Mas foi decido que hoje seria aqui, e assim
foi.
Este dia estava quase a ser como
tantos outros, mais uma espera debalde. As melgas, essas é que estavam a fazer
um festim, certamente já teriam “bebido” um quartilho de (BRH+). Eis senão
quando por volta das 22h30 ouço um ligeiro estalar de ramos dentro do mato.
Alto! Lá vem o bicho.
E aparece caminhando pelo
estradão com um á vontade fora do comum para um porco deste calibre, qual
desfile de “beldades” à luz do luar, lombo largo e de cerdas reluzentes,
caminhava determinado e sem manifestar a mais pequena desconfiança, grande de
porte, magnifico macareno.
O coração debatia-se para sair
pela garganta, os nervos da descarga de adrenalina faziam com que todo eu
tremesse, nem sei se de medo, se do frio da geada da noite, certamente por ter
na minha presença tão ilustre convidado, enfim, um pouco de tudo, tinha na
minha frente a 50 metros “o porco da minha vida”, até parece filme.
Demorou uns minutos, pareceram
horas, a chegar ao banquete, aproveitou o caminho e as sombras para se ir
certificando que esta noite lhe iria correr bem, sem ter algum tipo de atropelo
na sua incursão nocturna. Como estava enganado o velho javali, ali estava eu e
a minha fiel “Marlim 444”, para lhe alterar os planos. Coloca-te em posição e
verás nascer o dia nas pradarias do céu dos porcos, pensava eu.
E colocou-se em posição, e também
eu me coloquei em posição, cruz da mira centrada na espádua, zona do pescoço
com o ombro, fatal para um porco deste tamanho.
Dou uma última olhadela para o
meu adversário em jeito de despedida e agradecimento por me ter proporcionado
um lance de caça memorável por muito tempo, e quando me preparo para premir o
gatilho, o magnifico animal, pressentindo certamente a morte, dá um salto
impensável para o seu porte e desaparece por entre as giestas deixando-me com
um amargo de boca por não ter agido mais cedo, foi-se pensei eu, com o coração
a ficar pequenino, mas existia ainda uma réstia de esperança, talvez voltasse,
pois o porco não roncou de zangado, como costuma fazer quando dá por mim pelo
cheiro, aguardemos. Ao fim de uns minutos novamente mato a partir e pelo mesmo
sítio aparece mais uma vez. Mas desta feita só avançou até metade do caminho,
desapareceu pelo eucaliptal, desconfiado com alguma coisa ou somente avisado
pelo seu apurado instinto de sobrevivência.
Fiquei eu com uma grande
“cachola” por não ter ganho esta batalha a tão digno adversário, mas a “guerra”
continua e o cevadouro na noite seguinte foi mais uma vez visitado pelo meu
opositor, milho comido e paus todos virados, o repto está de pé e um dia alguém
vai ganhar, ele ou eu. Mas esperas a velhos porcos como estes em que estamos
frente a frente mesmo sem um dos oponentes perder a vida, valem pelo imenso
prazer que dão, só quem não esperou é que não sabe dar valor.
Até breve velho “amigo”.