sexta-feira, 4 de setembro de 2015

O Dia da Espera



O DIA DA ESPERA
A minha última espera ao Javali realizou-se no dia 21 de Agosto. Tenho apostado num cevadouro junto a um caminho na confluência dum eucaliptal com uma zona de mato muito suja. Pareceu-me ser o sítio indicado para que os porcos se apresentassem á comida sem muitas desconfianças. Ter escolhido o caminho para colocar o cevadouro dava-me mais segurança para realizar um possível disparo, pois ficava sem vegetação que além de causar sombras indesejadas á noite com a luz do luar dificultariam mais o tiro. 
Foram muitos dias a cevar e a observar o comportamento do grande macareno, e o dia para a espera foi determinado, não sem antes ter colocada a hipótese de ir a um outro sítio, pois esta zona é muito sujeita ao enrolamento do vento, que já tantas vezes denunciou a minha presença. Ouço os porcos no mato mas não entram ao cevadouro, estes têm a escolaridade completa. Mas foi decido que hoje seria aqui, e assim foi.
Este dia estava quase a ser como tantos outros, mais uma espera debalde. As melgas, essas é que estavam a fazer um festim, certamente já teriam “bebido” um quartilho de (BRH+). Eis senão quando por volta das 22h30 ouço um ligeiro estalar de ramos dentro do mato. Alto! Lá vem o bicho.
E aparece caminhando pelo estradão com um á vontade fora do comum para um porco deste calibre, qual desfile de “beldades” à luz do luar, lombo largo e de cerdas reluzentes, caminhava determinado e sem manifestar a mais pequena desconfiança, grande de porte, magnifico macareno.
O coração debatia-se para sair pela garganta, os nervos da descarga de adrenalina faziam com que todo eu tremesse, nem sei se de medo, se do frio da geada da noite, certamente por ter na minha presença tão ilustre convidado, enfim, um pouco de tudo, tinha na minha frente a 50 metros “o porco da minha vida”, até parece filme.
Demorou uns minutos, pareceram horas, a chegar ao banquete, aproveitou o caminho e as sombras para se ir certificando que esta noite lhe iria correr bem, sem ter algum tipo de atropelo na sua incursão nocturna. Como estava enganado o velho javali, ali estava eu e a minha fiel “Marlim 444”, para lhe alterar os planos. Coloca-te em posição e verás nascer o dia nas pradarias do céu dos porcos, pensava eu.
E colocou-se em posição, e também eu me coloquei em posição, cruz da mira centrada na espádua, zona do pescoço com o ombro, fatal para um porco deste tamanho.
Dou uma última olhadela para o meu adversário em jeito de despedida e agradecimento por me ter proporcionado um lance de caça memorável por muito tempo, e quando me preparo para premir o gatilho, o magnifico animal, pressentindo certamente a morte, dá um salto impensável para o seu porte e desaparece por entre as giestas deixando-me com um amargo de boca por não ter agido mais cedo, foi-se pensei eu, com o coração a ficar pequenino, mas existia ainda uma réstia de esperança, talvez voltasse, pois o porco não roncou de zangado, como costuma fazer quando dá por mim pelo cheiro, aguardemos. Ao fim de uns minutos novamente mato a partir e pelo mesmo sítio aparece mais uma vez. Mas desta feita só avançou até metade do caminho, desapareceu pelo eucaliptal, desconfiado com alguma coisa ou somente avisado pelo seu apurado instinto de sobrevivência.
Fiquei eu com uma grande “cachola” por não ter ganho esta batalha a tão digno adversário, mas a “guerra” continua e o cevadouro na noite seguinte foi mais uma vez visitado pelo meu opositor, milho comido e paus todos virados, o repto está de pé e um dia alguém vai ganhar, ele ou eu. Mas esperas a velhos porcos como estes em que estamos frente a frente mesmo sem um dos oponentes perder a vida, valem pelo imenso prazer que dão, só quem não esperou é que não sabe dar valor.
Até breve velho “amigo”.